O que passa na Netflix? - 22 de Julho

     22 de Julho é um filme original Netflix inspirado nos acontecimentos reais que envolveram o atentado neste dia de 2011, na Noruega, mais precisamente na capital do país, Oslo, e na ilha de Utøya. Em Oslo, prédios do governo sofreram com o ataque de um carro-bomba e na ilha houveram assassinatos em um evento promovido por pessoas involvidas no governo vigente, em sua maioria jovens. Ambos os ataques foram planejados e motivados por extremismo político e terminaram com 77 pessoas assassinadas.

      Ao contrário do que pode parecer, o filme aborda muito mais o estado psicológico dos personagens do que o acontecimento em si. Este não é um filme para alguém que quer ver cenas de ação e explosões, mas sim para refletir sobre as consequencias de atos baseados em ideais extremistas. O que torna impossível não fazer uma relação com a situação política do Brasil hoje. Na semana que escrevo esse texto haverá a votação para o segundo turno da eleição para presidente, entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a eleição mais polarizada entre extremos de esquerda e direita do país.

      O filme inicia com um clima bem tenso mostrando Anders Behring Breivik, o autor do atentado, produzindo as bombas que levariam à destruição prédios do governo, com o intuito de atingir ao primeiro-ministro da Noruega por suas políticas multiculturalistas e favorável a imigração. O diretor britânico, Paul Greengrass, já conhecido pelos filmes Capitão Phillips e Vôo United 93, mostra que sua experiência em criar situações extremamente tensas logo de início, alternando entre cenas dos jovens que sofreram o atentado chegando a ilha e do terrorista produzindo seu arsenal. O clima causado pelo ataque iminente e a falta de conhecimento dos jovens sobre o perigo que futuro é tenebroso e ele perpetua ao longo da história.

      Achei extremamente interessante como o roteiro nos contextualiza ao local, as pessoas e a política do país de forma sutil, sem parecer descabido e explicativo demais, sempre aprofundando melhor os personagens, que são o fator principal do filme. O fator humano e as relações deles com o acontecimento é o que mais chama a atenção no todo. O que torna essa obra bastante sensível, mas também chocante quando necessário.

      Como dito anteriormente, o foco do filme é a relação das pessoas após os ataques e a superação que passam depois dos traumas causados, tornando o filme muito mais humano. Num segundo momento, vê-se melhor as motivações de Anders e, claro, seu lado de psicopatia, visto pela certeza de que suas ações foram o melhor para o país e para sua sociedade, interpretado muito bem pelo ator Anders Danielsen Lie. Depois disso, o filme se preocupa em mostrar o drama da família de uma das vítimas, Viljar Hanssen, acompanhando sua delicada recuperação, tanto física, quanto psicológica.

      Um fato curioso é que esse filme será distribuido em diversos cinemas do mundo, o qualificando para a participação no Oscar, o que já gerou bastante controvérsia no passado por não considerarem produções da Netflix para a premiação por não existir nenhuma exibição em cinemas propriamente. Isso até o momento, tanto pela distribuição de 22 de Julho, quanto pelo fato de que essa é uma obra de peso para a premiação.

Comentários